quinta-feira, 29 de março de 2012

PASSA E FICA-RN. Mulher com sinais de depressão, vivendo em situação precária, conta o seu drama

É muito ruim viver sozinha. Hoje eu sei o que é solidão.” As declarações são de uma mulher que vive no município de Passa e Fica, no agreste do Rio Grande do Norte, há pouco mais de 100km, da capital Natal.

Passavam das 04h00 da tarde da quarta-feira (28 de Março de 2012). Seguindo por uma estrada vicinal, fui levado até uma casa humilde e precária, localizada na zona rural do município. 

Uma mulher de cor escura, cabelo esvoaçado, roupas rasgadas e olhar desconfiado, retira água de um tanque. Minha presença desperta sua atenção. “Esta é casa de Zé Burrão?” Pergunto a um senhor que está sentado em um batente da que, um dia, foi uma casa de sonhos e de alegria. “É sim senhor.” Respondeu. 

- “E o senhor quem é?” Me interroga a senhora ao olhar para o veículo adesivado da empresa Talismã FM. “Sou Júnior Campos, trabalho na Talismã de Belém-PB.” Silêncio desconcertante. “Venta muito por aqui né? Lugar bom pra morar.” Foi o que disse numa tentativa de quebrar o silêncio que nos distanciava. Ninguém aparteou minha boba observação.

Sem prolongar o objetivo da minha ida àquela casa, fui explicando o que estaria fazendo ali. Expliquei que tinha recebido uma denúncia das péssimas condições da casa em que a mulher, juntamente com um irmão, moram, e que estaria ali para conhecer, de fato, a realidade dos irmãos e tentar buscar uma solução para o problema. “Ah! Faz tempo que escuto esta conversa.” A resposta veio imediata em tom de descrença.

Vencidos os primeiros minutos de aproximação; quebradas as arestas; combinamos de ter uma conversa mais a vontade. Acordo feito.

Sentado em um tamborete, já dentro da casa, pisando em chão batido de barro, rodeado por paredes de taipa, iniciamos uma longa conversa. Foram curtos 40 minutos de uma produtiva conversa.

Mal começamos o diálogo e já percebi que ali, o problema maior não era a precariedade da casa onde a mulher reside com seu irmão. As paredes deterioradas pelo tempo, o telhado quebrado e o chão defeituoso, passavam despercebidos, ao compararmos com a alma daquela mulher, esta sim, deteriorada e fragilizada pelas duras experiências vividas ao longo dos seus 46 anos de vida, que só foram confirmados pela filha. A mulher não soube dizer sua idade.

Iniciei a conversa lhe interrogando sobre o tempo em que os irmãos moravam naquela casa. A mulher me disse que desde que se entende de gente reside ali. “Ajudei a construir esta casa. Então faz muito tempo. Depois fui praticamente expulsa de casa. Aí fui para Natal. Com uns dias recebi uma carta onde me pediam desculpas e que eu voltasse para casa. Retornei, mas não passei muito tempo. Fui para Natal, fiquei grávida, tive uma filha, mas deixei com minha mãe e retornei para Natal. Passei 19 anos e há 13 voltei para a mesma casa, onde estou até hoje, e não pretendo sair para nenhum outro lugar.” Relatou.

“E sobre as precariedades da casa, não tem medo que desabe sobre você e seu irmão?” Perguntei. “Eu acho que desabar de vez, não é possível, porque é de taipa. Que dá medo dá. As paredes estão deterioradas, isso preocupa. Além disso, tem muito inseto por aqui. Cobras, ratos e sapos aparecem a todo tempo. As vezes perco o sono por causa desses insetos. A casa parece mais uma casa de bixo.” Comentou.

Há informações de que o nome da doméstica já está cadastrado em um programa de casa própria no município, mas há um grande problema, a mulher não tem aceitado ajuda de ninguém. Desconfia de todos e pela depressão, acredita que todos querem seu mal.

O sentimento de abandono embriaga a alma da mulher. A doméstica disse que se sente abandonada e rejeitada. Acrescentou que nunca conseguiu se relacionar bem com as pessoas; nunca foi de ter amigos e que por isso acredita que viva tão isolada. Há oito anos, a mulher não vai à cidade. Os vizinhos e familiares nem sempre são bem vindos à residência. Os que querem ajudar são impedidos pela desconfiança da doméstica.

Percebendo o seu estado emocional lhe questionei sobre sonhos de infância. “Quando eu era criança eu sonhava em ser independente. Morar sozinha, trabalhar e depois se aparecesse um príncipe encantado ... (risos) ... que acho que nunca vai aparecer, ter filhos. Mas o sonho não foi realizado e hoje não quero mais. Descobri que morar sozinha é muito ruim. Agente se sente muito mal, é um coisa horrível. Hoje eu entendo o que sofre um idoso, porque a solidão é uma coisa muito triste. Só sabe quem passa por ela. Ser rejeitada dói muito. Eu me sinto como diz a letra de uma das músicas dos Nonatos, ‘no seu mundo não me cabe, tá jogado as traças’. É assim de verdade que eu me sinto aqui.” Relatou.

Sobre o relacionamento com o irmão que reside na mesma casa a mulher disse que não há nem hum relacionamento. “Dia ele está bem, outro dia agressivo. Não temos diálogo. Cuido das coisas dele, mas não temos relacionamento algum." Contou.

A doméstica disse que se sente excluída dos planos de Deus. Seus dias são sofridos e a única companhia é o choro contínuo nos momentos de intensa solidão. Acrescentou que se pudesse pedir algo a Deus, seria a vida de volta. Trabalhar e ter seu próprio dinheiro como foi um dia. “Já disse a Deus que se é para eu continuar vivendo com este sofrimento com o qual convivo desde que nasci, que ele tire minha vida. Eu não aguento mais.” Concluiu.

Deixei a casa da mulher impressionado com sua inteligência. Para alguém que só cursou até a quarta série (5º Ano), ela se expressa muito fácil. Tem um vocabulário rico e dá sinais de quem ainda tem muito a oferecer a este mundo. Tomei um café antes de deixar a residência e fiquei com a promessa de voltar para provar de uma receita de bolo, feito pela doméstica. Uma tarde para não esquecer. Um aprendizado a ser lembrado. 
 
Mas inquieto com o que acompanhei fui em busca de mais informações. Precisava conhecer a filha da doméstica, citada poucas vezes na conversa.

Como estava o relacionamento familiar? O que o governo municipal estava oferecendo aqueles dois solitários, vitimados pela depressão e acompanhados pela solidão? Só a filha poderia responder.

19h00. Já era noite de quarta-feira quando após buscar informações de quem seria sua filha e onde poderia encontra-la, cheguei a uma casa na cidade de Passa e Fica. Perguntei se era a casa da moça que procurava. Uma senhora sentada em uma cadeira me confirmou que sim. Perguntei se poderia falar com ela e a resposta foi sim. Em seguida uma moça, aparentando 20 anos, veio a passos lentos ao meu encontro e antes que dissesse algo, ela se adiantou: “Já sei do que se trata.” Adiantou.

Apresentei-me e falei da reportagem que há horas estava fazendo. Disse do objetivo e que precisava de algumas informações que só ela poderia me repassar.

A jovem confirmou ser filha da mulher, tinha 23 anos e me contou que por trabalhar na cidade, não tem condições de morar com a mãe, mas que a visita duas vezes por semana. Disse que os encontros nem sempre são agradáveis, mas que mesmo assim a visita.

 
Contou que equipes do serviço social e médica do município já tentaram oferecer um tratamento para sua mãe, mas não obtiveram sucesso, porque sua mãe se nega a qualquer tratamento e não confia em ninguém. Falou do relacionamento das duas. Disse que há pouco diálogo.

O caso da doméstica é mais um dos muitos. A depressão tem atingido a crianças, jovens e adultos. É uma doença invisível e de forma discreta invade a alma e domina a mente.

Há um conjunto de ações a serem desencadeadas para a recuperação desta mulher. Família, amigos e profissionais, precisam dar as mãos e recuperar o que de melhor tem esta mulher.

Nossa reportagem segue acompanhando o caso.

NOTA: As identidades e endereços dos envolvidos na reportagem, foram preservados por se tratar de um problema de saúde.

Chegamos a este caso, graças a confiança de uma ouvinte da Talismã FM (99,3) que, através do meu contato – (083) 9999-1530 – informou da existência do problema. Poderemos não resolver o problema, mas juntos, sociedade, família e poder público, poderemos buscar uma saída para este e outros problemas sociais.

A Talismã é você !

Por Júnior Campos

1 comentários:

Anônimo disse...

Caro junior campos, eu conheiço muito bem esta familia e estou disposto a , levar uma soluçao para sua vida , pois sou da igreja assembleia de Deus e vejo que este problema so quem resolve o nosso Senhor Jesus Cristo, vou coloca-los em minhas oraçaes .que DEUS abençoe vcs da Talismã pelo otimo trabalho.